quarta-feira, 29 de junho de 2011

As letras como futuro

O mais difícil em retomar algo que se tenha abandonado uma vez é fazê-lo temendo abandoná-lo novamente. Escrever para mim não era um prazer, não era terapia e muito menos uma necessidade, escrever era um ato de sociabilidade.

A gana de ser ouvido é inerente a todo ser pensante, inevitavelmente cobiçamos os ouvidos alheios e orgulhosamente despejamos neles nossos erros, falsos conceitos e filosofias de boteco, e nos sentimos bem com isso. Mais importante, nos sentimos como que parte de uma comunidade, unidos pela leitura de um alguém, a confraria do texto da semana. Não é o caso de ser o objeto de discussão, contentava-me em elogiar um aqui, criticar outro ali e ir construindo aqueles invisíveis laços de obrigação que levam alguém a retribuir o favor quando for você a pessoa lida.

É disso que eu sinto falta. Deixei de ser um escritor, membro ativo e rebaixei-me a mero leitor. Minhas criticas esvaziaram-se, pois não poderia fazer melhor e meus elogios ficaram frios, pois me esqueci como de é duro tentar. Um dito popular diz que “críticos são aqueles que queriam ser escritores, mas não tinham talento suficiente”, tenho de confessar que não acredito na parte do talento, mas o substituiria de bom grato por vontade.

Agora que almejo voltar à sociedade, sou tomado pelo medo, como um arrivista em meio a aristocracia, fazendo o seu melhor para emular um comportamento inconsciente naqueles que o julgam com o olhar. Fico todo “cheio de dedos”, sutilezas e meios sorrisos, e percebo como a incerteza torna os bravos em covardes, mas oferece uma chance de superar o passado.

As letras mortas dos escribas e fariseus hoje só interessam a pedantes teólogos, é na forma viva de nosso tempo que se formam os mitos e as palavras nas bocas de nossos jovens. Fui velho e parte de mim pertence ao passado, de cidades frias e sociedades mortas. Não é suficiente voltar a freqüentar os mesmos lugares, ser lido pelas mesmas pessoas, para superar o passado é preciso almejar um futuro.

Hoje escrevo, sem saber do amanhã.

Lucas Medeiros

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