Nunca tentei escrever algo cuja personagem principal fosse uma garota, penso que seja mais uma mulher adulta, balzaquiana, experiente, mas desiludida. Não pararei pra fazer descrições pretendo trabalhar mais afundo esta personagem em algum conto futuro então deixo aqui apenas um pequeno fragmento. Espero que se divirtam.
“Incomoda-me, e muito, ver o homem com o qual gostaria de desenvolver um relacionamento, rodeado de amigos e sorrindo como um babaca. Não que a felicidade dele seja um problema em si, o problema é que se resume apenas na felicidade dele e, naturalmente, dos amigos também. Aqueles sujeitos barbados e mal trajados sentados bebendo suas cervejas tem para mim e mesma relevância da mesa, não são meus amigos e a identidade deles se resume a serem apenas amigos dele e nada mais.
Não consigo manter minha paz de espírito, o mero fato de estar na mesma mesa não garante que eu esteja inclusa. Cada riso, gargalhada, olhar ou piada me ofende, parece-me que estou excluída da mesa e em ultimo nível da vida deles. Tenho plena consciência de que eles discutem e relembram de coisas das quais não fiz parte, só não sou reduzida a mero objeto, pois eles teimam em me expor como uma conquista do homem ao meu lado.
Pode ser um caso de falta de confiança, eu sei que poderia cooptar a atenção destes homens retirando-os do caldo comum que dividem e me permitindo sorver alguns de seus goles. Não dividi da carne e do vinho, dos segredos e das verdades, da praça e do leito, nem mesmo tenho a vantagem da mulher desconhecida que oferece um mundo de possibilidades.
Paixão e amor romântico convivem e se misturam da mesma forma que um casal se re-apaixona continuamente, sempre encontrando novos desejos para serem saciados, há aqueles que sem nunca terem divido o leito ou terem dado vazão aos seus impulsos têm plena certeza de se amarem. É muita presunção restringir toda a variedade de relacionamentos humanos à procura de um amor que nem podemos definir o que é. Se a felicidade não é deste mundo, isso não nos impede de sorvermos algumas doses de contentamento. Não sei amar como os anjos, mas ainda posso procurar a felicidade e quem poderá dizer que estou errada.
Não permito mais perder-me nas paixões juvenis que turvam o raciocínio. Talvez seja tolice, mas gosto de pensar que em ter um relacionamento que possa controlar. Não sou uma mulher que arrebate corações, meus lábios ressecados de falta de contato anseiam o sopro de vida que aquele homem pode me oferecer.
Dizem que amar é sofrer. Alguns lidam melhor com esta máxima, outros preferem se abster do combate, eu faço parte do segundo tipo, não tenho coragem de arriscar-me em um relacionamento incerto, prefiro apostar minhas fichas em um sentimento que surja naturalmente na convivência. É ai que está minha angustia.
Confiar no florescimento de uma relação, na progressão da amizade para o namoro, da afeição para o amor, não comporta passividade. São necessárias ações constantes de manutenção e aprofundamento da intimidade. Quando estes homens me apartam de sua conversa meus esforços estão sendo desperdiçados. Negam-me a oportunidade de assimilar ainda mais a pessoa amada.
Sei que o que faço é arriscado, estou sempre na iminência de cair no egoísmo, de tornar este homem em um objeto e me apoderar do que não deve ter dono, tornar-me muito possessiva e deixar de respeitar o tempo e a privacidade que ele precisa para amadurecer seus próprios sentimentos. O que dói mais é que tenho certeza de que já passei do ponto de retorno, só posso pensar que se ao menos ele me chamasse, se ao menos, se...”
Bem, é isso ai. Meu mais longo post, talvez algum dia eu coloque o link do conto completo, ou não.
L.M
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