Carregava no bolso um anedotário. Olhar sucinto e jocoso, lábios espichados como plástico usado.
Espera ansiosamente seus ouvidos captarem a essência do dia, quiçá as narinas: o busão.
Saltitante, barulhento, apertado como bem gostava que o fosse. Feliz, pois sabia que as coisas mais belas do mundo estão no clichê das cousas simples do dia-a-dia. Aquilo para ele era sua História sem fim.
Trinta, quarenta, cinquenta, curvas, praças, pessoas no relance, postes, casas, bares, letreiros, neons.
Cheio de gente, muita vida.
Homem, ser animal irracional. Pantonímico da racionalidade desejada. Ele sabia.
Alguns amam as estrelas;
Outros os mares;
Hão de existir os que amam as correntes de ar.
Ele discretamente amava os homens, toda a éspicie.
Amava as formas: cabelos, narizes, braços, unhas, pés, cochas, bundas, seios e pénis.
A beleza exteriorizada carnalmente fazia com que ele se redobrace de alegria ao saber que vivia entre homens.
O Tempo, Senhor dos homens, deixara claro que nada nesse mundo ficará, por um instante se quer, estagnado.
Os dias, as noites, as horas e as festas passaram, a cada momento amava mais e mais e mais e mais...
Como em Borges, um velho chega para cumprir sua missão de criar em sonho um homem e descobrira ao fim que ele próprio, o sonhador, não passara de outro sonho, o jocoso rapaz percebeu na sua solidão infestada de gente que não permaneceria para sempre naquele estado de plenitude.
Percebera ao fim que seu fim estava próximo. Não era velho, menos ainda um adulto, tampouco um rapazola. Com memória fraca, fragmentada e danificada pelo Tempo. Perdeu de supetão a quentura do amor ao perceber que amava as coisas que passam, as coisas simples, as coisas que descansão: vermes, sintão o meu sabor.
Temia ser tarde demais. Temia morrer sozinho - nunca o foi. As coisas belas e simples só existem pois há o "infinito" e o verdadeiro amor, a alma. Não existe o simples se não houver o complexo. Era a resposta, percebeu, então, que o ínfimo momento de sua descoberta foi mais profundo e denso e caloroso amor que jamais sentira...
Os ônibus, as escola, as praças e as pessoas permanecem, mesmo após sua morte.
O ÚNICO
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