terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

A existência

Desfragmentado e insólito. Este era o homem a viver em condições e dimensões singulares.
Em sua desconstrução do tudo e de todos a única solidez em seu mundo era ele próprio.
Vivia entre a poeira de minúsculas particulas e a infinitude de especificidades que ele mesmo construiu.
Seu mundo era vazio (se é que podemos pensar em mundo aqui, algo tão concreto) e nada sólido, perdia-se na escuridão do espaço.
As palavras, os sons, os sonhos, as coisas para se verem já não existiam. Faziam parte do todo desconstruido.
Era mudo, não ouvia, não sonhava. Em tudo que tocava virava pó e não ouro bruto.
Rebelou-se.
Trancafiou-se por muito tempo naquilo que podemos chamar de casa e por lá ficou por anos e anos.
Quando percebeu o que fizera resolveu desfazer e reconstruir as coisas do mundo e a própria Terra.
Botou as areias nas praias, os sons nas bocas, os olhos na face e os discursos nas mentes.
O fizera incansavelmente durante seis dias e no sétimo descansou.
Voltou para sua casa, agora firme e sólida, e por lá permaneceu durante anos.
Tempos depois ganhou coragem e resolveu sair, ver as pessoas, as gentes, as multidões.
Rever seu trabalho.
Ao caminhar percebeu algo estranho, todos aqueles que passavam por ele não o comprimentavam, ignoravam-o, apesar dos "bom dia" e "como vai?"... ninguém o viu.
De frente a uma loja espelhada parou e olhou. Olhou, olhou, olhou e nada pode ver...
Era ele agora o pó, a poeira, a sujeira das quinas e sarjetas...
Era ele agora o infinito.
Jamais tornou a existir.

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